“Au commencement était l’amour”: em busca da comunhão perdida na poesia de Maria Teresa Horta, Ana Luísa Amaral e Adília Lopes
DOI:
https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2024.e1903Palavras-chave:
erotismo, comunhão, amor, poesia feminina portuguesa.Resumo
Para Georges Bataille, o erotismo procura responder à questão “o que significa o que sou?” (1987), abrindo-se à possibilidade de uma continuidade do ser por meio de uma comunhão sagrada com o Outro. bell hooks acrescenta que tal comunhão se torna real quando as mulheres se libertam das distorções patriarcais que historicamente moldaram o conceito de amor. Julia Kristeva, por sua vez, argumenta que a criação artística pode proporcionar formas alternativas de experienciar e expressar o desejo, desafiando as normas dominantes. Tendo em conta esta moldura teórica, examinaremos, neste artigo, alguns poemas de três poetisas portuguesas — Maria Teresa Horta, Ana Luísa Amaral e Adília Lopes — cujas obras contestam normas sociais e identitárias. Essas autoras estabelecem um diálogo transtextual sobre a construção e desconstrução das identidades pessoais e autorais, através da erotização da escrita e do uso de corpos sexualizados. Analisaremos como essas práticas literárias contribuem para o debate sobre a identidade feminina, a autoridade literária e o empoderamento das mulheres, além de questionar as normas estabelecidas e a fragilidade dos conceitos de género e género literário. Nas suas diferentes artes poéticas, as autoras revelam a busca por um amor libertador e transformador, fundado na comunhão com o Outro.
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