“Branca para casar, mulata para f...”: retratos em contraste de mulheres brasileiras no imaginário escravista
DOI:
https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2024.e1901Palavras-chave:
Casa Grande & Senzala, abolicionismo literário, cultura visual, sexualidade, escravidão, BrasilResumo
Em Casa Grande e Senzala (1933), uma das obras fundadoras da análise sobre as relações coloniais e escravistas no Brasil, Gilberto Freyre relata um ditado popular no qual ele afirma que além das convenções sociais sobre a superioridade da mulher branca e a inferioridade da mulher negra, a preferência sexual dos homens pelas mulatas é indiscutível. Freyre analisa as raízes dessas preferências, convenções e práticas sexuais dos homens no Brasil. Nesse estudo sobre a mulher brasileira e sobre seu valor, identificado na capacidade que ela tem de despertar o desejo masculino, as mulheres brancas e retintas têm suas sexualidades cerceadas por funções re-produtivas enquanto a mulher parda é objeto de uma hipersexualização. Partindo deste imaginário erótico, misógino e racista que marcou as interpretações do papel da mulher na sociedade colonial, este artigo propõe uma análise da cultura visual assim como o estudo de duas obras do abolicionismo literário do século XIX no Brasil. O erótico e a representação da sexualidade da mulher brasileira entre um jogo de espelhos no eixo do visível/invisível (imagens) em estreita relação com o dizível/indizível (textos) são analisados como um dispositivo do processo de colonização e de dominação dos corpos femininos no Brasil.
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