Humor à primeira vista: porno-paródias oitocentistas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2024.e1900

Palavras-chave:

paródia, romantismo, intertextualidade, homossociabilidade, prostituição, homossexualidade

Resumo

Em meados do século XIX e até inícios do século XX, surgiu em Portugal uma intensa produção de textos licenciosos. Embora a maior parte tenha sido publicada sob anonimato, esses textos fesceninos revelam uma certa homossociabilidade: uma escrita entre homens e para homens. Ora, alguns dos poemas obscenos dados ao prelo revelam ser reescritas pornográficas de poetas consagrados na época ou mesmo de autores canónicos, porno-paródias por assim dizer, que visam “profanar” a literatura coeva e dar uma “bofetada no gosto do público” através do riso.

Com efeito, se a geração de 70 escreve contra o ultrarromantismo, esses autores anónimos já vinham ridicularizando os topoï do romantismo, revelando sob “o manto [obsceno] da fantasia” “a nudez forte da verdade” sexual dos hipócritas burgueses lisboetas.

Biografia Autor

Fernando Curopos, Université Sorbonne Nouvelle - CREPAL

Fernando Curopos é professor catedrático em estudos lusófonos na Universidade Sorbonne Nouvelle. É autor de António Nobre ou la crise du genre; L’Émergence de l’homosexualité dans la littérature portugaise (1875-1915); Queer(s) périphérique(s) : représentation de l’homosexualité au Portugal (1974-2014) ; Lisbonne 1919-1939 : des Années presque Folles; Versos Fanchonos, Prosa Fressureira. A sua pesquisa tem incidido sobre questões de género, de sexualidade e sobre temas queer na literatura portuguesa (s. XIX-XXI) e no cinema português. Tem reeditado uma série de obras licenciosas portuguesas na editora Index.

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Publicado

2025-03-17

Como Citar

Curopos, F. (2025). Humor à primeira vista: porno-paródias oitocentistas. Língua-Lugar : Literatura, História, Estudos Culturais, (7), 22 — 42. https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2024.e1900

Edição

Secção

Dossiê