Masculinidades
Modelos, gestos e práticas na vida monástica em Portugal (séculos XVI-XVII)
DOI:
https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2023.e1484Palavras-chave:
Masculinidades, Portugal, Séculos XVI-XVII, Mosteiros, Hagiografia, Biografia devotaResumo
Na esfera religiosa, a masculinidade reveste-se de um singular prestígio, declinado, por exemplo, no sacerdócio e em outras competências da vida religiosa. Em todo o caso, vários modelos de masculinidades, em sede monástica, poder-se-ão espelhar em outras dimensões, como, por exemplo, as práticas espirituais e devotas. Neste sentido, tendo como pano de fundo a problemática do género e da interioridade na vida religiosa, este artigo, a partir da análise de vários textos que se inscrevem no filão da literatura de espiritualidade – e que vão desde “Vidas” devotas até compilações hagiográficas ou crónicas monásticas –, pretende auscultar os contornos que as práticas devotas e espirituais assumiram em Portugal, ao longo dos séculos XVI e XVII, nos meios monásticos e conventuais masculinos, tentando equacionar a questão da identidade de género e perceber se este poderá funcionar como elemento diferenciador. Impossibilitados, por imposição canónica, de concretizarem o matrimónio e a paternidade, estes religiosos buscam outras vias através das quais possam “expressar” e “exteriorizar” a sua masculinidade, espelhando um conjunto de modelos e comportamentos que poderão funcionar como marca diferenciadora de género.
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