Aspetos importantes do legado árabe na língua portuguesa

Autores

  • Abdelilah Suisse Universidade de Aveiro

DOI:

https://doi.org/10.34913/journals/lingualugar.2020.e418

Palavras-chave:

Contacto linguístico, arabismos portugueses, árabes no Ghab Al-Andalus

Resumo

Durante o domínio muçulmano na Península Ibérica, no Al-Andalus e Gharb Al- Andalus, que teve lugar entre 711 e 1492, a língua árabe foi um relevante veículo de cultura e de ciência nessa região,vtendo deixado um legado linguístico notável nas línguas ibéricas (1).

O presente artigo propõe-se descrever e analisar alguns aspetos importantes da influência árabe na língua portuguesa. O estudo realizou-se partindo da seleção de um corpus composto por vinte arabismos pertencente a vários campos linguísticos.

Concluiu-se que a influência da língua árabe no português está associada, sobretudo, à conservação dos artigos lunar (ex. alface, alfazema, almoxa-rife) e solar (2) (ex. adufe, açude, açúcar) que se aglutinam aos substantivos, atuando como prefixos. Através destes e doutros exemplos, verificou-se que os aprendentes de português (cuja língua materna é o árabe) acabam, na realidade, por empregar uma forma híbrida, usando dois artigos definidos – o do português [o/a(s)] e o do árabe [al] ou [a]. Poder-se-á, assim, dizer que o uso duplicado do artigo constitui o traço mais marcante dos arabismos que afetam o português. Ao nível cultural, o trabalho apresenta e explica alguns exemplos de difusão cultural árabe-muçulmana na Península Ibérica em que os arabismos testemunham, verdadeiramente, essa aculturação que se manifesta amplamente na agricultura, nas artes e ciências, na arquitetura, entre muitos outros domínios.

1 - Neste artigo, as línguas ibéricas remetem neste artigo para o castelhano e para o português.

2 - A origem desta designação tem a ver com o facto de “o sol”, em árabe, alshams /  , ser pronunciado asshams, assimilando o l / ل; enquanto “a lua”, escreve-se e pronuncia-se alqamar /  . Por esta razão, “o sol” e “a lua” foram tomadas em árabe como referências pelos linguistas para distinguir dois tipos fonéticos de artigo definido. Como consequência desta distinção, na língua árabe encontramos, também, consoantes solares e lunares.

Biografia Autor

Abdelilah Suisse, Universidade de Aveiro

Abdelilah Suisse é Licenciado em Língua e Literatura Espanholas (1993) pela Universidade de Sidi Mohamed Ben Abdellah de Fez, em Marrocos, e Mestre em Literatura Comparada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2000). Em 1999, concluiu o Curso de Especialização Diploma Universitário de Formação de Professores de Português Língua Estrangeira na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Obteve o grau de Doutor em Educação – Ramo Didática e Desenvolvimento Curricular pela Universidade de Aveiro (2016), na qual trabalha, atualmente, como Professor Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas. Como investigador, Abdelilah Suisse é membro integrado do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas, onde é, também, responsável pelo projeto Línguas e Aprendizagens. É autor de diversos artigos científicos, publicados em revista nacionais e internacionais, sobre os Estudos Luso-Árabes e sobre o Aquisição de Línguas Terceiras (L3) e o Plurilinguismo.

Referências

Alves, A. (2013). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Azevedo, M. M. (2015). Moçarabismo e toponímia em Portugal. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

Corriente, F. (1996). "Novedades en el estudio de los arabismos en iberorromance". Revista Española de Lingüística, 26, 1, pp. 1-13.

— (2003). Diccionario de arabismos y voces afines en iberorromance. Madrid: Gredos.

— (2006) "Romania Arabica: uma questão não resolvida de interferência cultural na Europa Ocidental". Signum, 8, pp. 81-91.

Coutinho, C. P. (2012). Metodologias de investigação em Ciência Sociais e Humanas: Teoria e Prática. Coimbra: Almedina.

Dictionnaire de Français Larousse. Disponível em: https://www.larousse.fr/dictionnaires/francais.

Diccionario de la lengua española [em linha]. Real Academia Española (RAE). Disponível em: https://dle.rae.es/diccionario.

Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003- 2020. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa

Denzin, N. K. e Lincoln, Y. S. (2000). Introduction: The discipline and practice of qualitative research. In: N. K. Denzin, & Y. S. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research. California: Sage Publications, Thousand Oaks, pp. 1-28.

Farinha, A. D. (1973). "Contribuição para o estudo das palavras portuguesas derivadas do árabe hispânico" Portugaliae Historica VI. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Instituto Histórico Infante Dom Henrique, pp. 244-265.

Franca, R (1994). Arabismos: uma minienciclopédia do mundo árabe. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife: EDUFPE.

Houaiss, Dicionário de Português [em linha]. Disponível em: https://www.dicio.com.br/houaiss/

Lopes, D. (1940). Textos em aljamía portuguesa: documentos para a história do domínio português em Safim (extrahidos dos originaes da Torre do Tombo (1897). Lisboa: Imprensa nacional.

Machado Filho. L. (2013). "Arabismos e germanismos em textos medievais portugueses" Encontro Internacional dos Estudos Medievais - ABREM 10. Brasília: Editora Universidade de Brasília, pp. 392- 400.

Machado, J. P. (1997). Vocabulário português de origem árabe. Lisboa: Editorial Notícias.

Maranhão, S. M. (2018). "Arabismos portugueses no contexto multilinguístico da Península Ibérica Medieval" Caligrama, v. 23, 2, pp. 121-143.

Nascentes, A. (1966). Dicionário etimológico resumido. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Cultura.

Ribeiro, O. (1987). A formação de Portugal. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa.

Sidarus, A. (1986). "Os estudos árabes em Portugal". In: Islão e Arabismo em Terra Lusitana. Évora: Publicações da Universidade de Évora, pp. 392-400.

— (2009). Arabismos e traduções árabes em meios luso-moçárabes. Covilhã: Luso Sofia-Press.

Silva, N. S. (1992). História da língua portuguesa. Lisboa: Dinalivro.

Sousa, F. J. ([1789] 2004). Vestígios da Língua Arábica em Portugal. Lisboa: Alcalá.

Suisse, A. (2004). "A Imagem dos Árabes na Literatura Portuguesa: os exemplos

de Gil Vicente e Alexandre Herculano". In: Portugal, Espanha e Marrocos: o Mediterrâneo e o Atlântico. Centro de Culturas Árabes, Islâmicas e Mediterrânea. Faro: Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, pp.70-75.

Teixeira, M. (2009). "Os estrangeirismos no léxico português - uma perspectiva diacrónica" Filologia linguística portuguesa, 10/11, 81-100. Disponível em http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/flp/images/arquivos/FLP10-11/Teixeira.pdf

Teyssier, P. (1980). História da língua portuguesa. Lisboa: Sá da Costa Editora.

Vasconcelos, C. M. de (1946). Lições de filologia portuguesa. Lisboa: Revista de Portugal.

Vargens, J. B. (1999). Arabismos na língua portuguesa (subsídios para um estudo do léxico português de origem árabe). Tese Doutoramento. Lisboa: FLUL.

— (2007). Léxico português de origem árabe: subsídios para os estudos de filologia. Rio Bonito: Almádena.

Viguera Molins, M. J. (2002). Lengua árabe y lenguas románicas. Revista de Filología Románica, 19, pp. 15-54.

Zayed, A. M (1993). Datos dialectales andalusíes (gramaticales y léxicos) en algunos documentos tardíos granadinos y moriscos. Tese de Doutoramento. Madrid: Universidad Complutense, Facultad de Filología. Departamento de Estudios Árabes e Islámicos. Disponível em: http://eprints.ucm.es/tesis/19911996/H/3/AH3030101.pdf

Publicado

2021-02-26

Como Citar

Suisse, A. (2021). Aspetos importantes do legado árabe na língua portuguesa. Língua-Lugar : Literatura, História, Estudos Culturais, 1(2), 42–59. https://doi.org/10.34913/journals/lingualugar.2020.e418