My friend Gil
1998
DOI:
https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2020.e213Resumo
Portugal, 1998, seguindo os passos da vizinha Espanha, mas com uma prudente modéstia, Lisboa inaugura a sua Expo. A época é de festa, de especulação imobiliária e de banquetes de dinheiro público. Estes grandes eventos festivos internacionais precisam sempre de uma desculpa. Em Portugal, o pretexto é o mesmo de sempre: os descobrimentos portugueses, a vocação universalista e oceânica dos portugueses. Mas, apesar de tudo, os tempos são outros e em vez do "Mundo Português" festejam-se os "Oceanos". O Gil – a simpática mascote oficial – está em todo o lado, em cada esquina, o amigo dos seus sponsors. Eu era estudante da escola de Belas Artes do Porto. Fazia desenhos em folhas A4 que depois fotocopiava e colava pela cidade. Era uma estratégia barata de curto-circuitar os percursos habituais das obras de arte, tanto os comerciais quanto os institucionais. A imagem do Gil abraçado a uma garrafa de um famoso refrigerante estadunidense – para o qual Álvaro de Campos escreveu um malogrado slogan publicitário – pareceu-me uma vítima ideal. A política externa dos EUA, e a sua longa história de campanhas bélicas, infelizmente sempre atual, era, aqui também, uma estratégia de ridicularizar a subserviência do pequeno Portugal.