Os "compridos narizes" dos portugueses: Expo’98, manuais escolares e história em multiperspectividade.

Autores

  • Marta Araújo Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

DOI:

https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2020.e208

Palavras-chave:

História Colonial, Expo'98, Multiperspectividade, Manuais Escolares, Raça/Poder

Resumo

Este artigo aborda debates contemporâneos sobre a multiperspectividade – uma abordagem e metodologia promovida pelo Conselho da Europa para responder ao "preconceito" na história e no ensino, que tem recebido crescente interesse académico nas últimas décadas. Para examinar como esta abordagem tem sido interpretada e utilizada, procedo à análise de uma curta-metragem que aborda Portugal na sua relação histórica com os "Oceanos" apresentados na exposição mundial Expo'98 em Lisboa, assim como nas narrativas sobre relações coloniais de um manual de história recente e de grande circulação. Considerando a persistente naturalização do racismo – um processo histórico e político complexo, muitas vezes reduzido a meros "preconceitos mútuos" que podem ser revertidos pela apresentação de visões contrastantes – o texto desafia a despolitização do colonialismo e do racismo sob o signo da inclusão de "outras" perspectivas e conteúdos, que não questionam os quadros e estruturas mais amplas do conhecimento eurocêntrico.

Biografia Autor

Marta Araújo, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

Marta Araújo doutorou-se pela University of London e é Investigadora Principal do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, onde desenvolve investigação no Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe) e lecciona nos Programas de Doutoramento Democracia no Século XXI e Human Rights in Contemporary Societies. O seu trabalho de investigação aborda a (re)produção e os desafios ao eurocentrismo e ao racismo, em duas linhas complementares: 1) eurocentrismo, produção de conhecimento, ensino da história e lutas políticas; 2) políticas públicas, desigual- dades raciais no sistema educativo e anti-racismo.

Referências

Ahonen, S. (2001). “The past, history, and education”. Journal of Curriculum Studies, 33(6), 737-751.

— (2014). “Education in post-conflict societies”. Historical Encounters: A journal of historical consciousness, historical cultures, and history education, 1(1), 75-87.

Almeida, M. V. de. (2000). Um Mar da Cor da Terra: 'Raça', Cultura e Política da Identidade. Oeiras: Celta.

Apple, M. W. e Christian-Smith, L. (1991). The Politics of the Textbook, Nova Iorque: Routledge.

Araújo, M. (2016). “Adicionar sem agitar: narrativas sobre as lutas de libertação nacional africanas em Portugal nos 40 anos das independências”. Revista Desafios - número temático 'O lugar da memória e a reinvenção das origens', 3, 33-56.

— (2018). “As narrativas da indústria da interculturalidade (1991-2016): Desafios para a educação e as lutas anti-racistas”. Investigar em Educação, II Série, 7, 9-35.

Araújo, M. e Maeso, S. R. (2012a). “Slavery and Racism as the ‘Wrongs’ of (European) History: Reflections from a Study on Portuguese Textbooks”. In Douglas Hamilton, Kate Hodgson e Joel Quirk (org.), Slavery, Memory and Identity (pp. 151-166). Londres: Pickering & Chatto.

— (2012b). “History textbooks, racism and the critique of Eurocentrism: beyond rectification or compensation”. Ethnic and Racial Studies, 35(7), 1266-1285.

— (2013). “A presença ausente do racial: discursos políticos e pedagógicos sobre História, ‘Portugal’ e (pós-)colonialismo”. Educar em Revista, 47, 145-171.

— (2016). Os Contornos do Eurocentrismo - Raça, história e textos políticos. Coimbra: Almedina.

Araújo, M. e Rodrigues, A. (2018). “História e memória em movimento: escravatura, educação e (anti-)racismo em Portugal”. Revista História Hoje, 7(14), 107-132.

Bhambra, Gurminder K. (2007). Rethinking Modernity. Postcolonialism and the Sociological Imagination. Basingstoke: Palgrave MacMillan.

Brown, W. (2006). Regulating Aversion. Tolerance in the Age of Identity and Empire. Princeton, NJ: Princeton University Press.

Castelo, C. (1998). O Modo Português de Estar no Mundo. O Luso-Tropicalismo e a Ideologia Colonial Portuguesa (1933-1961). Porto: Afrontamento.

Conselho da Europa. (1995). Against bias and prejudice. The Council of Europe’s work on history teaching and history textbooks (Recommendations on history teaching and history textbooks adopted at Council of Europe conferences and symposia 1953- 1995), CC-ED/HIST (95) 3 rev, Estrasburgo: Cooperação - Conselho da Europa.

Costa, J. P. O. e Lacerda, T. (2007). A Interculturalidade na Expansão Portuguesa (Séculos XV e XVIII). Lisboa: ACIDI.

Cruz, B. (2002). “Don Juan and Rebels under Palm Trees: Depictions of Latin Americans in US history textbooks”. Critique of Anthropology, 22(3), 323-342.

Ferreira, C. (2006). A Expo'98 e os imaginários do Portugal contemporâneo: cultura, celebração e políticas de representação. Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Tese de Doutoramento.

Fredrickson, G. (2000). Racism: a Short History. Princeton, NJ: Princeton University Press.

Füredi, F. (1998). The Silent War. Imperialism and the Changing Perception of Race. Londres: Pluto.

Goldberg, D. T. (2002). The Racial State. Oxford: Blackwell.

Hespanha, A. (1999). Há 500 anos. Balanço de três anos de Comemorações dos Descobrimentos Portugueses 1996-1998. Lisboa: CNCDP.

Hesse, B. (2004). “Im/Plausible Deniability: Racism’s Conceptual Double Bind”. Social Identities, 10(1), 9-29.

— (2007). “Racialized Modernity: An analytics of white mythologies”. Ethnic and Racial Studies, 30 (4), 643-663.

Low-Beer, A. (1997). The Council of Europe and School History, CC-ED/HIST (98) 47. Estrasburgo: Conselho da Europa/Direcção de Educação, Cultura e Desporto.

Matos, P. F. de. (2006). As Côres do Império: Representações Raciais no Império Português. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Neves, P. A. (Coord.); Amaral, Cláudia; Pinto, Ana Lídia. (2013). Descobrir a História 8. Porto: Porto Editora.

Oliveira, A. (2003). “The Activities of the CNCDP: A preliminary assessment”. e-Journal of Portuguese History, 1 (1), 1-12.

Pieterse, J. N. (1995). White on Black: Images of Africa and Blacks in Western Popular Culture. New Haven, Conn.: Yale UP.

Quijano, A. (2000). “Coloniality of Power, Eurocentrism and Latin America”. Nepantla: Views from South, 1(3), 533-580.

Reiter, B. (2005). “Portugal: national pride and imperial neuroses”. Race & Class, 47(1), 79-91.

Repoussi, M. e Tutiaux-Guillon, N. (2010). “New Trends in History Textbook Research: Issues and Methodologies toward a School Historiography”. Journal of Educational Media, Memory, and Society, 2 (1), 154–70.

Roque, R. (2018). “The colonial ethnological line: Timor and the racial geography of the Malay Archipelago”. Journal of Southeast Asian Studies, 49 (03), 387–409.

Rüsen, J. (2004). “How to overcome ethnocentrism: approaches to a culture of recognition by history in the twenty-first century”. History and Theory, 43, Dec., 118-129.

Said, E. (2003 [1978]). Orientalism. Londres: Penguin Classics.

Sayyid, S. (2003[1997]). A Fundamental Fear: Eurocentrism and the emergence of Islamism. Londres: Zed Books.

Siza, Á. e Souto de Moura, E. (1998). Pavilhão de Portugal. Lisboa: Fundação BCP.

Stradling, R. (2001). Teaching 20th-century European History. Estrasburgo: Council of Europe.

— (2003). Multiperspectivity in history teaching: a guide for teachers. Estrasburgo: Council of Europe.

Swartz, E. (1992). “Emancipatory Narratives: Rewriting the Master Script in the School Curriculum”. Journal of Negro Education, 61 (3), 341-355.

Trouillot, M.-R. (1995). Silencing the past. Power and the Production of History. Boston: Beacon Press.

Vakil, A. (2006). “Heróis do Lar, Nação Ambi-Valente: Portugalidade e Identidade Nacional nos tempos dos pós”. In Manuel Loff e Maria da Conceição M. Pereira (eds.), 30 Anos de Democracia em Portugal (pp. 73-101). Porto: FLUP.

van Dijk, T. (1993). Elite Discourse and Racism. Newbury Park: Sage.

Venn, C. (2006). “The Enlightenment”. Theory, Culture & Society, 23(2-3), 477–498.

Virta, A. (2007). “Historical Literacy: Thinking, Reading and Understanding History”. Journal of Research in Teacher Education, 4, 11-26.

von Borries, B. (2009). “Competence of Historical Thinking, Mastering of a Historical Framework, or Knowledge of the Historical Canon”. In Linda Symcox e Arie Wilschut (org.), National History Standards: The Problem of the Canon and the Future of Teaching (pp. 283-306). Charlotte, North Carolina: Information Age Publishing.

Wallerstein, I. (1997). “Eurocentrism and its Avatars: The Dilemmas of Social Science”. New Left Review, 226, 93-107.

Wolf, E. R. (1997 [1982]). Europe and the People without History. Berkeley e Los Angeles: California University Press.

Wynter, S. (1992). Do not Call us Negros: How ‘Multicultural’ Textbooks Perpetuate Racism. San Francisco, CA: Aspire.

Publicado

2020-06-10

Como Citar

Araújo, M. (2020). Os "compridos narizes" dos portugueses: Expo’98, manuais escolares e história em multiperspectividade. Língua-Lugar : Literatura, História, Estudos Culturais, 1(1), 66–85. https://doi.org/10.34913/journals/lingua-lugar.2020.e208